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Embalagem de bolo como máscara de oxigênio, falta de equipamento e equipe experiente: o que se sabe sobre internação de bebê no RN

  • Foto do escritor: Ipanguaçu de Hoje
    Ipanguaçu de Hoje
  • 15 de jun. de 2024
  • 5 min de leitura

Um bebê de 3 meses com suspeita de bronquiolite foi salvo na última segunda-feira (10), em um hospital de Santa Cruz, a 120 km de Natal, depois que a equipe do hospital municipal improvisou uma embalagem de bolo como capacete de oxigênio antes de a criança ser transferida para uma UTI pediátrica em Natal. A imagem chamou atenção nas redes sociais.


A internação do bebê na UTI do Hospital Varela Santiago aconteceu na terça-feira (11). Dois dias depois, ele foi transferido para a enfermagem, onde permanece em tratamento e apresenta boa evolução clínica, segundo os médicos da unidade de saúde.



A médica que elaborou o respirador usado pela criança durante aproximadamente quatro horas junto com sua equipe de plantão afirmou que o uso de equipamentos improvisados é mais comum do que se imagina no Serviço Único de Saúde.


Veja abaixo o que se sabe sobre o caso:

Qual era a situação de saúde do bebê ao dar entrada no hospital?

Por que o hospital não tinha o equipamento necessário?

Quem é a médica que usou o capactete de oxigênio improvisado no bebê?

A equipe já tinha experiência com esse tipo de equipamento improvisado?

Como o capacete de oxigênio improvisado ajudou o bebê?

O que a família da criança disse sobre o uso do equipamento improvisado?

Qual é a situação de saúde atual do paciente?


Qual era a situação de saúde do bebê ao dar entrada no hospital?

Segundo a mãe do bebê, Kadja Juliane, a criança possui um quadro delicado de saúde. Ele tem hidrocefalia, usa uma bolsa de colostomia e também tem síndrome de Dandy-Walker, uma malformação no cérebro que pode causar problemas no desenvolvimento motor e aumento progressivo da cabeça.


A equipe do Hospital Municipal de Santa Cruz informou que o bebê deu entrada na unidade no sábado (8) com quadro de desconforto respiratório grave, congestão nasal, febre, rinorreia, vômitos e diarreia.


Na manhã da segunda-feira (11), a médica plantonista constatou que a criança já tinha sinais de cianose - uma condição médica que afeta o paciente com má oxigenação do sangue - e apresentava manchas roxas na pele.


Por que o hospital não tinha o equipamento necessário?

Embora possuísse máscaras infantis de oxigênio, o Hospital Municipal de Santa Cruz não tinha entre seus equipamentos um capacete de oxigênio conhecido como hood, mais apropriado para uso em bebês. O produto custa cerca de R$ 500.


A prefeitura de Santa Cruz informou que a unidade de saúde do município não é referência - ou seja, não é especializada - em urgência materno-infantil.


Ainda segundo o município, a médica plantonista usou a embalagem de bolo para montar uma estrutura improvisada e atender a necessidade criança enquanto aguardava regulação para leito de UTI especializado para bebês em outro hospital.


Quem é a médica que usou o capactete de oxigênio improvisado no bebê?

Formada em medicina em 2015 em uma universidade privada do Rio Grande do Norte, Ellenn Salviano, de 41 anos, é natural de São Miguel, na região do Alto Oeste potiguar, mas mora em Natal.


Também formada em direito, casada, mãe de três filhos, a profissional começou a atuar em unidades básicas de saúde e depois foi convidada para o hospital municipal de Santa Cruz, onde é plantonista às segundas-feiras há quase 8 anos.

Durante a pandemia da Covid-19, Ellenn fez parte da equipe da UTI do hospital municipal. Além de Santa Cruz, ela trabalha no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Metropolitano às terças-feiras e no Hospital de Pirangi, em Parnamirim, nas sextas.


A profissional também faz plantões em outras unidades, como a sala vermelha de uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Parnamirim e em um hospital privado de Natal, sem dia fixo.


Nos hospitais e no Samu, ela atende principalmente pacientes adultos, mas também acaba recebendo crianças e bebês em situações graves.


"Trabalhar em serviços particulares é fácil, porque eu tenho tudo à mão, tudo o que eu preciso. Falta também, porque falta em todo canto, mas no SUS eu tenho que sair de casa todo dia pensando em como eu posso me reinventar. E eu tenho uma equipe que eu digo que é minha equipe cão, porque o inferno não escolhe. Vem tudo", afirmou ao g1.

A equipe já tinha experiência com esse tipo de equipamento improvisado?

Responsável pelo uso da embalagem de bolo como capacete de oxigênio, a médica Ellenn Salviano, afirmou que já perdeu as contas de quantas vezes realizou o mesmo tipo de improviso com seus colegas. De acordo com ela, a prática em hospitais públicos é mais comum do que se imagina.


Somente em uma semana, a máscara usada na criança de Santa Cruz foi a terceira que ela fez. As outras duas foram no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Uma delas com papelão.


"Ali estou nos meus braços com o amor de alguém. Quando saio de casa e deixo meus três filhos, assumo a responsabilidade que é cuidar do outro. Então eu não podia olhar para aquela mãe e dizer não podemos", disse.

"É muito fácil chegar e dizer: mãezinha, o desfecho foi ruim. Me desculpe, porque não somos um hospital materno-infantil, porque não temos recursos para o seu filho e o SUS não tem vaga", complementa.



Como o capacete de oxigênio improvisado ajudou o bebê?

Segundo a médica, o bebê estava fadigado havia dois dias, precisando de oxigênio e, por isso, corria um risco de parada cardíaca e necessidade de intubação.


Porém, com o uso do equipamento por cerca de quatro horas, até a chegada de um equipamento emprestado por outro hospital, a equipe conseguiu que o quadro de saúde da criança se estabilizasse.


'Assumo a responsabilidade que é cuidar do outro', disse.

"A criança estava com frequência respiratória de quase 80, com cioanose, saturando 75 a 80, com tiragem subcostal, com batimento de asa de nariz, com tiragem de fúcula, estavam bem sonolenta devido à fadiga pela falta de oxigênio no corpinho dela", explicou.


Ainda de acordo com ela, após o uso do equipamento improvisado, o bebê passou a ter uma melhora na frequência respiratória, saiu do quadro de cianose, e começou a ter uma saturação de 99% a 100%.


"Por mais improvisado que seja, foi o que fez com que a criança estabilizasse e a gente conseguisse aguardar essa vaga de UTI por mais 24 horas", pontuou.


O que a família da criança diz sobre o uso do equipamento improvisado?

Mãe do bebê, Kadja Juliane agradeceu à equipe do hospital municipal de Santa Cruz pelo atendimento ao filho. Ainda de acordo com ela, apesar do improviso, o bebê "melhorou bastante".



"Mesmo eles não tendo suporte para atender criança, fizeram todo o possível pra atendê-lo", afirmou.

A mãe também contou que a equipe médica se preocupou com a internação no hospital municipal por ele não ser pediátrico. Segundo ela, havia medo de alguma infecção devido à estrutura inadequada.


Qual é a situação de saúde atual do paciente?

O bebê de 3 meses recebeu alta da UTI do Hospital Varela Santiago, em Natal, nesta quinta-feira (13), após apresentar melhora do quadro clínico, mas segue internado na enfermaria da unidade.


Nesta sexta-feira (14), o hospital informou que o paciente segue em quadro de melhora e processo de "desmame" da oxigenação por meio de catéter, aumentando a alimentação, e saindo do quadro respiratório que o levou à internação.

 
 
 

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